Jornal da Beira: Cem anos de grandes responsabilidades e de desafios constantes

Foi a de 9 janeiro de 1921 que o então bispo de Viseu, D. António Alves Ferreira, decidiu apadrinhar o Jornal da Beira, um jornal de cunho católico, ligado à Diocese, mas igualmente informativo. Este ano, o Jornal da Beira celebra 100 anos, assinalada com a publicação do n.º 5176, em 7 de janeiro, quinta-feira, dia em que sai para as bancas este semanário.

Reportagem de Maria Soares

“É uma grande responsabilidade e um desafio constante, olho com gratidão para o passado, mas sei olhar com empenho para o futuro”, é como revela sentir-se Nuno Azevedo, padre e atual diretor do Jornal da Beira, após a publicação ter completado 100 anos de história em janeiro de 2021.

Como afirma Nuno Azevedo, o Jornal da Beira é um jornal que conseguiu sobreviver a diversas pressões económicas e políticas “especialmente nos tempos mais conturbados da história portuguesa nestes 100 anos”. Acrescenta que, atualmente a pressão é exercida de forma mais diplomática e “faz-se sentir nas expressões partidárias menos conseguidas de tentar caracterizar um jornal que sempre primou pela sua isenção”.

Porém não foram só pressões económicas e politicas que vieram a marcar o jornal, pensado e criado pelo cónego José de Almeida Correia, que foi o seu primeiro diretor. Ao longo dos anos, o periódico foi marcado por várias mudanças. Mudanças essas que Nuno Azevedo explica terem surgido no tempo certo, sendo essenciais para o crescimento do próprio jornal.

“Entre as várias mudanças que foram acontecendo com a própria evolução, penso que cada mudança é significativa do seu próprio tempo e da necessidade de dar aos leitores uma visão atual do mundo, deste mundo em que o Jornal se insere”, diz.

Ainda assim existiram mudanças não planeadas. O Jornal da Beira teve de sofrer alterações para se adaptar às novas circunstâncias. Nuno Azevedo revela que para além das mudanças no espaço, existiu também a preocupação de “fazer do Covid-19 quase notícia constante”.

Acrescenta ainda que existiu “a necessidade de reprogramar até o trabalho diário, enfrentando também a necessidade de suprimir algumas publicações, durante o primeiro confinamento, com trabalhadores em lay off.” Porém, o padre Nuno Azevedo esclarece que os jornalistas estão a dar o seu melhor para continuar a presença informativa junto dos seus leitores.

Ao contrário do que se pode pensar, o Jornal da Beira não é apenas um jornal que informa sobre a religião. Desde o desporto à economia, o Jornal da Beira é um jornal generalista que noticia e informa os seus leitores sobre todo o tipo de matéria. Ainda que assim seja, Nuno Azevedo explica que, sendo padre, é difícil separar o jornalismo da religião.

Separar o jornalismo e o sacerdócio é o que tenta, todas as semanas, o Jornal da Beira. O padre Nuno Azevedo confessa que “o jornalista, escritor, tem sempre essa dificuldade de separar o pessoal do profissional, seja na imprensa regional, seja na nacional. Como padre da Diocese de Viseu a que o Jornal está ligado, por vezes, torna-se difícil separar o jornalismo do sacerdócio”.

Nuno Azevedo esclarece que, atualmente, apenas ele e mais uma jornalista compõem a redação. Poucos, mas é o suficiente para que todas as semanas cheguem notícias aos seus leitores. “Nesta colaboração, é possível, ainda que com esforço, publicar todas as semanas notícias da Diocese, da Igreja, de Viseu, da região, de desporto e de saúde, como sempre se pretendeu”, completa.

O padre Nuno Azevedo conta que o Jornal da Beira é “um jornal de características próprias, ligado a uma Diocese, não a outros meios de comunicação ou a grupos económicos, que vai lutando até se tornar presença online e meio de consulta também neste historial centenário”.

O Jornal da Beira perdura como órgão da Diocese de Viseu, sendo o culminar de um percurso do principal periódico diocesano, desde a criação dos seus antecessores: A Folha (dezembro de 1901- março de 1911), Folha de Viseu (março de 1911), Correio da Beira (abril de 1911-abril de 1919) e Defesa Social (abril de 1919-dezembro de 1920).

Em 1923, o Jornal da Beira foi transferido para a rua Nunes de Carvalho (popularmente conhecida por ‘rua do Bispo’), onde ainda se encontra hoje, e de onde, semana após semana, noticia e informa não apenas os seus leitores na Diocese, como também tantos outros no resto do país e no estrangeiro.

Nuno Azevedo afirma que cada notícia escrita e publicada deixa a sua própria marca. Porém, para o diretor do Jornal da Beira, houve uma notícia especial que o marcou. ”Divulgar o nome do novo Bispo de Viseu, aquando da nomeação, alguém que conhecia e foi meu professor, e preparar com ele aquela que seria a primeira grande entrevista, que o daria a conhecer à Diocese, foi um momento marcante”, relembra.

O Jornal da Beira completou em janeiro 100 anos. Um marco histórico para este semanário que poucos órgãos de comunicação social conseguem alcançar. Um jornal que passou por muitas pressões, muitas mudanças, mas, que acima de tudo, manteve o espírito e continuou o seu trabalho árduo.

a