Rádio Voz do Douro assegura a proximidade da população da região duriense há quase duas décadas

Foi em São João da Pesqueira que há 19 anos se deu início à ideia da criação de uma rádio local na região do Douro, que visava uma união das populações dos concelhos da região. Manuel Santana, o diretor da rádio, dirige este projeto desde o início e orgulha-se de que a rádio, para além de informar, seja atualmente uma companhia para as populações que a ouvem.

Reportagem de João Nogueira

A rádio Voz do Douro tem “o privilégio de cobrir mais de 20 concelhos limítrofes” para além de São João da Pesqueira, tendo a colaboração de três pessoas, com um funcionamento a tempo inteiro. Manuel Santana sente que as pessoas que ouvem a rádio e se mostram assíduos merecem ser informadas sobre as suas localidades. “Temos pessoas que nos escutam e nos ligam diariamente. Sentimos que devemos dar informação desses mesmos concelhos, para que as pessoas fiquem também informadas do que se vai passando nas suas terras”, conta.

O diretor declara que a rádio vai mais além da informação e que esta “tem a magia de fazer feliz quem a escuta”. A rádio Voz do Douro está localizada na região com o mesmo nome e estabelece a proximidade entre localidades, maioritariamente caracterizadas por populações idosas.  Manuel Santana, afirma que para além do “bichinho da rádio” de que se fala, é necessário “saber que do outro lado está alguém, nunca sabendo em que circunstâncias, muitas vezes a precisar de uma palavra amiga”. O diretor da rádio diz ter consciência que “há muitos idosos que estão isolados e muitos solitários” e que face a esta realidade, a rádio desempenha papéis de “companhia” e “confidência”, mantendo sempre “uma ligação próxima com eles”, por exemplo ao “passar músicas que os ouvintes gostam de ouvir, ou que já não ouviam há muito tempo e que lhes vai matar a saudade, por vezes da sua juventude”.

A proximidade ficou mais difícil de se concretizar a partir de 2020 com o início da pandemia de Covid-19. Manuel Santana refere que este período pandémico “veio transtornar o mundo” e, apesar de serem muitos os setores atingidos, a cultura e a arte, incluindo-se neste campo também a rádio, foi um setor afetado e não priorizado quanto a apoios financeiros. Desde o começo do isolamento em março do ano passado, a rádio Voz do Douro viu-se forçada a fazer teletrabalho que ainda continua desde então. O diretor da rádio revela uma “experiência muito má” nesta nova forma de trabalho à distância: “lutamos naturalmente com dificuldades! Sendo que a imprensa regional na sua maioria são empresas privadas ou cooperativas, com poucos recursos financeiros, que é o nosso caso”. Em Portugal, foram vários os estados de emergência decretados e renovados pelo governo com objetivo de conter a pandemia, o que agravou o estado económico e a sobrevivência de jornais e rádios locais, que estão cada vez mais perto de atingir o seu limite. Entre os media regionais, são muitos os que têm a sobrevivência dependente da publicidade. Em espaços rurais, como é o caso da rádio Voz do Douro, a publicidade advém muito de negócios do comércio local, que tiveram de fechar devido aos constantes estados de emergência.

Manuel Santana diz que apesar de “serem entidades de interesse público, não obtêm fundos públicos”. Esta falta de investimento e apoios na imprensa regional conduz a um possível encerramento ou fecho destes órgãos locais. O diretor do jornal afirma muita dificuldade em enfrentar a realidade imposta pela pandemia. “É muito difícil. Principalmente no que diz respeito à tesouraria, pois os nossos clientes foram obrigados a encerrar as portas dos seus negócios, sem recursos para poderem fazer face aos seus compromissos para com os bancos, recorrendo às moratórias, e naturalmente que os seus fornecedores também não receberam atempadamente, ou não vão receber. E as rádios foram atingidas na perda de publicidade que é a sua única sustentabilidade”, assegura.

O trabalho continua e o desejo de alargar o projeto da emissora também. Se tivesse recursos, Manuel Santana “gostava de criar uma rádio TV, se possível em sinal aberto, digital e analógico”. Apesar da informatização, o diretor da rádio não revela o desejo de abandonar o analógico, pois não sabe se no futuro pode haver um “covid-informático e que fiquemos todos sem internet”.

Apesar das dificuldades que a rádio Voz do Douro atravessa, o compromisso inicial continua para com as populações que a ouvem. A rádio que faz cobertura em mais de 20 concelhos envolventes da região duriense e “tem a magia de fazer feliz quem a escuta”, principalmente os mais idosos, muitos deles isolados e a precisar de “companhia”.

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