Alive FM, de rádio pirata a sucesso distrital

Criada no Sátão, por um grupo de 50 sócios em meados dos anos 80, a Alive FM viveu a altura das cassetes, vinil e cartucheiras, tornando-se atualmente na rádio líder de audiência no concelho de Viseu.

Por Tânia Chaves

António Mendes, atual diretor de informação e jornalista da Alive FM, teve o primeiro contacto com a rádio na altura das “rádios piratas”, em que eram apenas três na Rádio Sátão a fazer programas. Contudo, afirma que na época não havia a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação) a inspecionar aquilo que era feito ou não, algo que mais tarde mudou.

Em 1992, a Rádio Sátão, como era apelidada, “começou com três jornalistas” e António Mendes foi substituir um deles. Nesse ano, a rádio tinha apenas três animadores e “tudo era feito em direto, com oito horas de emissão, tempo esse permitido por lei às rádios locais”, acrescenta.

Situada na vila do Sátão, conhecida como “Capital do Míscaro”, a rádio acompanha todos os eventos do município a nível nacional, “tendo sempre na retaguarda o local”. Em termos de distrito, a Alive FM tenta fazer uma cobertura de eventos que permita alcançar os 24 concelhos do distrito de Viseu.

Sendo esta uma rádio local, António Mendes confirma a existência de “protocolos com algumas câmaras municipais”, tais como “Vila Nova de Paiva, Moimenta da Beira, Penalva do Castelo, Sernancelhe e Penedono” faz com que nestas localidades por vezes a cobertura dos eventos seja feita com mais regularidade que nos restantes concelhos, algo que o diretor de informação considera “não ser justo”, no entanto salienta o facto de que “a parte jornalística está sempre dependente da parte comercial”.

De Rádio Sátão para Alive FM e o salto para as redes sociais

Em 2015, pelas mãos de “um grupo de cinco estagiários”, eis que António Mendes deu um passo em frente e modificou o nome da Rádio Sátão para Alive FM, uma vez que a rádio ter o nome da vila levantava várias questões no distrito, nomeadamente “devido à pronuncia”, defende o diretor.

António Mendes, diretor de informação da Alive FM

O jornalista destaca o facto de na altura, quase todas as rádios locais optarem pelo nome da localidade em que se inseriam, e na altura, a Rádio Sátão não foi exceção.

O nome Alive Fm foi “inspirado no festival Optimus Alive” foi algo que “comercialmente resultou num pulo bastante significativo” e consequentemente “deu bastante projeção” à rádio. Mas, nem tudo foi fácil, António Mendes assegura que “no fundo foi voltar a fazer uma rádio do zero, mas valeu a pena”, tendo sido “felicitado pelo nome, devido ao facto de ser bastante atraente”, no entanto as felicitações não se estenderam a todos, tendo alguns criticado o facto de “ser um nome inglês”, mas comercialmente “permite à rádio atingir outros patamares”, tornar-se “líder de audiências no concelho” foi um deles.

Além disso, a entrada nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, foi inevitável tendo sido quase uma “obrigação”, como referiu António Mendes. Uma vez que a rádio em FM não tem “uma abrangência tão grande em todos os concelhos do distrito”, as redes sociais vieram contrariar isso. Uma notícia publicada no Facebook, em formato escrito ou áudio, tem “maior projeção e mais comentários”, afirma.

Os 20 anos que marcam o fim dos discos pedidos

“Chegou a altura de fechar este ciclo, os tempos mudaram”, é esta a ideia que António Mendes e a equipa da Alive FM pretendem transmitir aos ouvintes até ao final deste ano. Há quase 30 anos ao serviço da rádio local, o diretor de informação considera que “é preciso passar música atual para a faixa mais jovem, mas também a musica tipicamente portuguesa”, foi este um dos motivos que levou a equipa da Alive FM a tomar essa decisão, com o objetivo de “apresentar conteúdos diferentes” de forma a “manter o ouvinte ligado o maior tempo possível”, salienta o jornalista.

Assim sendo, a Alive FM, encontra-se agora na fase de “educar o ouvinte”, ou seja, reduzir o horário dos discos pedidos apenas para 1h30 semanal. Segundo António Mendes, os discos pedidos nesta rádio eram de segunda a sexta, três horas de manhã e duas à tarde, fazendo cinco horas diárias de discos. Ao fim de semana, o horário de discos pedidos era feito apenas de manhã, o que fazia um total de mais de 30 horas semanais de música nos disco pedidos.

Com a pandemia da Covid-19, o aumento dos discos pedidos foi bastante significativo, sendo impossível atender todos os ouvintes em apenas 1h30. António Mendes, realça o facto de no período de confinamento e teletrabalho, “regressaram ouvintes que ligavam esporadicamente”.

A paixão pela rádio local

Apaixonado pela rádio desde muito cedo, António Mendes faz rádio desde há praticamente 30 anos, e afirma que não se revê numa rádio nacional. A dada altura, teve “convite para Antena 1 e o que levava a uma possível aproximação à radio nacional”, mas recusou. Um dos motivos foi mesmo a proximidade e “a possibilidade de tornar uma notícia nacional, numa local”, dando exemplo dos avisos da proteção civil em relação às queimadas, que geralmente são para o país todo, mas numa pequena localidade é importante realçar a importância da limpeza das matas.

Assim, um dos motivos que leva o diretor a permanecer na rádio local é “a proximidade com o ouvinte, algo que na rádio nacional não existe”. Além disso, acrescenta que enquanto puder estar numa rádio local, é lá que irá permanecer, sentindo-se assim “em casa”.

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