A luz ao fundo do túnel

O governo português anunciou, esta quinta-feira (11 de março de 2021), o plano de desconfinamento. Uma decisão muito aguardada por diversos setores da sociedade portuguesa, que lutam pela redução do impacto da pandemia, quer na educação das crianças e jovens portugueses, quer na economia do nosso país. 

Opinião de Kevin Santos

Há precisamente um ano (11 de março de 2020), a Organização Mundial de Saúde declarava oficialmente a Covid-19 como uma pandemia global. Depois de um ano com poucos altos e muitos baixos, muitas perdas e poucas razões para sorrir, muitas máscaras e algum gel desinfetante, Portugal já enfrentou, não um, mas dois confinamentos.

No primeiro confinamento, o inimigo invisível trouxe consigo sentimentos de união e compaixão como já não se viam (e sentiam) há muito tempo. Os mais jovens faziam as compras dos mais velhos, o cidadão comum aplaudia os esforços dos que estavam na linha da frente (médicos, enfermeiros, auxiliares…), as pessoas pararam e conseguiram aproveitar para conhecer mais a família e aprender a fazer pão (e mais mil e uma coisas) em casa… De um momento para o outro, o mundo parou. Os autocarros e os metros já não percorriam as cidades carregados de pessoas e os aviões não levantavam voo. A natureza conseguiu respirar por alguns meses. Mas, por outro lado, a Covid-19 também trouxe o medo. Como não? Milhares de pessoas doentes, milhares de pessoas a morrer… e milhares de pessoas com a casa às costas e sem rendimentos para a pagar. Mas no meio de um caos de dúvida, sabíamos que tudo iria acabar bem. Sabíamos que alguém nos iria dar a mão. Sabíamos que o dinheiro de pouco vale se não estivermos vivos e de boa saúde.

O bichinho parecia estar a ir embora… Mas uns meses mais tarde começou a ganhar forma a segunda vaga da pandemia. O medo e a dúvida começavam a instalar-se. Se depois do primeiro confinamento, em que se debaterem com uma luta hercúlea pela sobrevivência, a maior parte dos pequenos e médios negócios voltaram a abrir portas (alguns não reabriram porque ainda não lhes era permitido), o mesmo já não seria tão certo depois do segundo confinamento. Em janeiro de 2021, os números evidenciavam um panorama assustador. O Sistema Nacional de Saúde, exausto e saturado, não conseguia dar resposta às necessidades de tantas pessoas. Portugal teve de parar.

Mas qual é o impacto do confinamento? Na educação, as crianças perdem parte de uma importante fase das suas vidas, uma fase de integração na sociedade e de introdução à aprendizagem. Porém, não foram apenas os mais novos que se debateram com as grandes dificuldades inerentes ao ensino à distância. Todos os estudantes foram desafiados durante os dois períodos de confinamento. Segundo um estudo da Associação Académica de Coimbra, cerca de 70% dos alunos do Ensino Superior admitiram ter pensado em desistir. A nível económico, os negócios que viram as suas portas fechar, debatem-se com grandes prejuízos e um futuro muito difícil no horizonte. As dificuldades económicas vão afetar, e muito, todo o país (e o mundo). A pandemia teve, também, um grande impacto na qualidade de vida e saúde mental das pessoas. Algo que pode ser explicado pela constante pressão exercida, em grande parte, pela comunicação social, aliada ao medo de ser infetado (ou que familiares sejam infetados), e às privações adjacentes ao confinamento, como a privação de liberdade, a inatividade física, a pressão familiar e as horas passadas à frente de um ecrã. Os níveis de ansiedade aumentam, bem como o número de casos de depressão, entre outros problemas mentais. A verdade é que o mundo nunca mais será o mesmo depois da Covid-19.

A partir de 15 de março, os mais novos voltam às escolas, creches e ATLs. Os cabeleireiros, manicures e similares voltam a abrir portas, assim como as livrarias, o comércio automóvel, a mediação imobiliária, as bibliotecas e os arquivos. As vendas ao postigo voltam a ser permitidas. Este será o início de um plano que se vai materializar em várias fases compreendidas entre 15 de março e 3 de maio. Será a luz ao fundo do túnel? Ou estaremos a precipitarmo-nos? O tempo o dirá…

Imagem de Willfried Wende por Pixabay

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