“Eles pedem muito miminho e dizer que não era estranho”

Negar mimo às crianças, mesmo em tempos de Covid19, continua a ser impossível

Reportagem de Lara Ferreira

A coordenadora de ATL, Andreia Araújo, tem 27 anos e a sua colega de trabalho, Cristina Silva, é auxiliar de educação, e tem 40.

Desde o início da pandemia, estão a lutar para que o dia a dia no Jardim de Infância de Tebosa, no concelho de Braga, seja agradável e divertido para as crianças, apesar da corrente situação de pandemia. As duas trabalham por gosto e são responsáveis pelo entretenimento das crianças e do bom funcionamento letivo pós aulas.

Foi em Julho de 2020 que Andreia Araújo, licenciada em Química, largou tudo para seguir o sonho de trabalhar com crianças. “Despedi-me de onde trabalhava, que era num laboratório, porque estava um bocadinho cansada daquela rotina de trabalho. Também como sempre lidei com crianças e jovens porque dava explicações. Comecei só por vir cá nas férias de verão na parte do ATL e depois convidaram-me para ficar cá a coordenar o ATL”, explica.

Para Andreia Araújo, o funcionamento das creches tornou-se muito complicado devido ao difícil controlo das crianças e às inúmeras regras.  “Até agora sempre incutimos às crianças que deviam partilhar, é um princípio básico que se incute às crianças. Agora, estamos a dizer que elas não podem emprestar o brinquedo ao colega era um bocadinho contraditório”, acrescenta a coordenadora.

No jardim de infância de Tebosa, as crianças são as primeiras a aderir às regras impostas face à Covid-19. Andreia Araújo conta como fazem os mais novos na reportagem áudio que anexamos a este texto.

Limitar as atividades é o que mais influencia o comportamento das crianças e por vezes a não interação provoca a desilusão. “Às vezes, durante o ano letivo, tinham saídas escolares, agora não podem fazer isso. O limitar das atividades é triste, não poder trazer aqui pessoas para elas interagirem”, por exemplo.

Cristina Silva, o mais difícil é negar o carinho que as crianças mais precisam. “Eles abraçam-nos na mesma. São crianças, nos não podemos”, relembra a auxiliar de ação educativa.

Ambas as funcionárias não conseguem rejeitar os pedidos de afeto das crianças e por vezes a proximidade é inevitável. “Tem aqui dois ou três meninos que são muito carentes e eles pedem muito miminho e dizer que não, para mim, era estranho”, acrescentam.

Por enquanto, ainda não houve registo de casos de coronavírus no jardim de infância, mas são alguns os meninos que já passaram pela experiência de isolamento devido a familiares infetados. Referem que “na escola primária existiram casos e uma turma teve que ir para isolamento. Essa turma tinha irmãos de meninos que andavam cá e, portanto, alguns também ficaram de isolamento. É claro que foi sempre aquela ansiedade de saber se o irmão estava positivo, pois o miúdo ia estar em causa e nós aqui também, portanto era sempre uma ansiedade constante”, lembra.

As duas funcionarias aguardam esperançosas pelas futuras atividades com as crianças e pelo alívio que será retirar a máscara do rosto. Para já, basta esperar, cumprir todas as restrições e desejar o melhor para o ano de 2021.

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