Compasso a Compasso, “sentimos a música”

Começou por se chamar “Tuna Invicta de Fajões”. Fundada em 1926, hoje chama-se “Banda Musical de Fajões” e carrega consigo quase 100 anos de história, diversos prémios, muitos quilómetros e procissões pelas localidades portuguesas. É formada por cerca de 75 elementos, em que grande parte dos músicos são frutos da própria escola, situada no concelho de Oliveira de Azeméis.

Reportagem de Inês Borges

Bruno Costa é maestro na Banda Musical de Fajões desde 2009 e levou a banda à sua internacionalização, em 2010, em França. Maestro e solista do naipe de percussão na Orquestra Sinfónica do Porto, incentivou a criação do evento “Musicalidades”, em 2011, com a finalidade de trazer a cultura àqueles que raramente têm oportunidade de assistir a eventos como este.

2012 é o ano que marca a gravação do CD “7 Maravilhas”, um CD duplo apresentado no Cineteatro Caracas, em Oliveira de Azeméis. Dois anos depois, a Banda Musical de Fajões participa pela primeira vez num concurso de bandas. Arriscou concorrer à primeira categoria e conquistou o terceiro lugar no 5.º Concurso Internacional de Bandas do Ateneu Artístico Vilafranquense, num total de 33 bandas participantes. Ainda em 2014, a coletividade recebeu o convite para participar nas “Ferias y Fiestas en honor de Santa María de la Vega”, em Salamanca.

Em 2016, a Banda Musical de Fajões presenteou o público com um novo projeto discográfico, “Em Conquista”, considerada como uma obra de referência no meio filarmónico a nível nacional. Marcou novamente presença na 6.ª edição do Concurso Internacional de Bandas do Ateneu Artístico Vilafranquense, em que, desta vez trouxe consigo dois troféus: o 2.º lugar na 1.ª categoria e o prémio Tauromaquia pela melhor interpretação de um “Pasodoble”.

Novamente no país vizinho, desta vez em Zamora, participou no “X Festival Hispano- Luso de Bandas de Música y Ensembles de Viento”. Já a acabar o ano premiado, conquistou o 2o lugar no III Concurso de Bandas Filarmónicas de Braga e também o prémio “Batuta de Prata” para melhor maestro. “Foi um grande orgulho vermos premiado dessa forma todo o trabalho que tem vindo a ser feito nos últimos anos”, disse o presidente da coletividade, António José Aguiar.

Dedicado àquele que define Portugal na música, o fado, em 2017, a banda gravou e apresentou um CD único, com solos interpretados pelo trompetista Jorge Almeida (Solista na Orquestra Sinfónica Portuguesa). Dando continuidade à participação em concursos de bandas, a coletividade participou novamente no Concurso de Bandas Filarmónicas de Braga, alcançando novamente o 3.º lugar.

Em 2019, a Banda Musical de Fajões realizou mais um marco a acrescentar ao seu historial, organizou um espetáculo que contou com a participação de um coro que juntos em palco somavam mais de 100 pessoas. O concerto realizou-se em homenagem ao compositor Óscar Navarro, “a ideia surgiu após a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis nos sugerir comprar um espetáculo como forma de nos apoiar financeiramente. Claro que a parte artística foi toda idealizada pelo nosso maestro”, esclarece o presidente da Banda Musical de Fajões.

António José Aguiar, presidente desta coletividade artística e cultural conhecida além fronteiras, confirma o carinho que sente por esta banda: “foram várias as circunstâncias que me levaram a acertar ser presidente, mas acima de tudo, o carinho pela coletividade”.

Da terra se fazem músicos e do ambiente emoções

Jorge Aguiar, Marta Oliveira, Virgínia Silva, Ana Pinho e Beatriz Almeida, são alguns dos músicos que fazem parte do elenco da Banda Musical de Fajões e que a descrevem com um enorme orgulho. Muitos são os músicos que se iniciam na Escola de Música da Banda Musical de Fajões com aulas de formação musical, evoluem até à etapa de escolher o instrumento que mais se identificam, praticam com professores, maioritariamente profissionais.

Jorge Aguiar, natural da pequena localidade de Oliveira de Azeméis, ingressou no mundo da música também desde cedo, na qual continua ainda hoje como músico da Banda Musical de Fajões e como professor de formação musical na escola da Banda. “O principal propósito da Escola de Música da Banda Musical é a formação de músicos para que a sustentabilidade da Banda seja assegurada” explica o músico e professor.

O músico recorda ainda, que quando entrou a formação era muito pobre e o número de músicos que faziam parte do elenco era metade do que são hoje: “era uma banda muito humilde”. “A Banda Musical de Fajões é a minha segunda família. Sinto-me em casa, tenho grandes amigos e acima de tudo, faço o que mais gosto que é ensinar e fazer música”, acrescenta.

A Orquestra Juvenil de Fajões é o primeiro contacto que os alunos têm antes de passarem a fazer parte do elenco da Banda. “A orquestra funciona como classe de conjunto para que todos os jovens aprendam a tocar e a sentir a música em grupo” explica o músico e professor na escola da coletividade.

Marta Oliveira, natural de Fajões, entrou para a Banda Musical com 10 anos, recorda que o seu percurso até agora foi bastante interessante e onde aprendeu e cresceu muito. “Para mim a banda representa uma parte da minha vida. Já são 11 anos e conheci pessoas fantásticas e que vou levar para a vida”, afirma Marta Oliveira.

Virgínia Silva, faz parte do elenco da coletividade desde 2010 e descreve a banda como uma relação: “Tem momentos em que todos se dão bem e tem outros momentos em que a coisa complica um bocado Um grupo constituído por mais de 60 pessoas terá sempre as suas discussões e diferentes opiniões”.

Ana Pinho, iniciou os seus estudos musicais com 10 anos, na Escola da Banda Musical de Fajões. “Para mim, a Banda Musical de Fajões é uma segunda família, uma segunda casa, oferecendo-me a mim, e penso que a todos a que ela pertencem, um ambiente agradável e acolhedor” afirma Ana Pinho.

Beatriz Almeida, realizou o seu primeiro concerto na Banda Musical de Fajões em janeiro de 2011, até agora, descreve a sua trajetória como uma viagem incrível: “sempre com muita aprendizagem e sobretudo companheirismo e cumplicidade musical. Momentos, pessoas, viagens que nunca se esquece”.

Sentimentos de conquista

Com um historial de conquistas, a Banda Musical de Fajões procura sempre inovar e crescer a nível musical no meio das bandas filarmónicas, “as conquistas são o reconhecimento do nosso trabalho e que nos dão força para continuar” afirma Jorge Aguiar.

Da pequena localidade de Fajões, Oliveira de Azeméis, para as estradas de Portugal, a coletividade já conquistou o coração de vários portugueses pelas suas prestações em palco. Os momentos antes da entrada em palco para concurso são descritos como momentos de ansiedade, nas palavras do presidente da coletividade, “mas quando os resultados são positivos, como felizmente têm sido, todos nós sentimos muito orgulho e uma enorme satisfação” acrescenta.

António José Aguiar não esconde o orgulho que sente, “quando a Banda termina os projetos em que se envolve, que têm sido muitos e felizmente têm corrido bem”. O responsável confessa que fica muito satisfeito “e com o sentimento de dever cumprido.” Para além do orgulho sentido, estar à frente de uma coletividade como a Banda Musical de Fajões “exige da direção muita dedicação e trabalho”, afirma António José Aguiar.

O papel de presidente é um papel que exige bastante dedicação, tal como explica António José Aguiar: “ser presidente da Banda de Fajões, significa responsabilidade para não defraudar a confiança que os sócios e beneméritos depositam em mim e nos meus colegas da direção. Significa também ser o rosto da coletividade, para o melhor e para o pior”.

As festas populares são ao que a banda mais se dedica. Nos dias longos em que acordam cedo e se fazem à estrada em direção a uma nova localidade, depois de um longo dia de concertos e procissões toca-se a marcha de despedida. No final de cada festa há o sentimento de dever cumprido, como confessa Jorge Aguiar: “apesar do cansaço, sente- se sempre o orgulho do trabalho feito pelo grupo”.

Virgínia Silva recorda também o cansaço sentido após cada festa e refere como um momento de felicidade por ter contribuído para a animação do público e por ter tocado ao lado de pessoas com muita entrega e dedicação no que fazem. As conquistas feitas pela Banda Musical de Fajões, para Virgínia Silva significam como sendo um culminar de muito trabalho: “é o suor de mais de 60 pessoas, o trabalho de uma direção que luta para que a banda chegue longe, a paciência de muitas famílias por verem os seus familiares gastarem parte do fim de semana nos ensaios da banda”.

Cada conquista em concurso ou cada projeto discográfico são motivos de orgulho para a coletividade e também para a própria freguesia de Fajões, como explica Beatriz Almeida: “Depois de cada conquista sinto que podemos fazer mais e mais, que não somos uma Banda qualquer e que fizemos a diferença, somos únicos e a nossa música é única”.

O cansaço físico é o sentimento que predomina após cada festa, Ana Pinho acrescenta ainda que existe também um sentimento de felicidade, de gratidão e de autorrealização pessoal e profissional. “Para além de todo o espírito de companheirismo, encher as festas com alegria e animar quem nos escuta é um dos lemas e motivos para demonstrarmos o que de melhor sabemos fazer em conjunto” constata Ana Pinho.

A Banda Musical de Fajões foi conquistando o seu lugar no mundo das bandas filarmónicas, o seu nome e nível artísticos continuarão a ser uma referência neste panorama.

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