“Precisamos de continuar a trabalhar todos os dias” pela igualdade de género

Ministra da Cultura portuguesa confessa que apesar das muitas conquistas alcançadas nos últimos 50 anos em termos do papel da mulher na sociedade, há ainda muito que fazer.

Por Mariana Cabral

“Mulheres
quebrámos as grandes barricadas
dizendo: igualdade
a quem quer que nos tenha ouvido
e assim continuamos
de mãos dadas
Nós somos o povo: mulheres do meu país.”

Foi com este excerto de “Novas Cartas Portuguesas” que a ministra da cultura, Graça Fonseca, terminou o seu discurso na Conferência Digital sobre a Igualdade de Género na Cultura Europeia e nos Meios de Comunicação Social do Conselho Cultural Alemão, que se realizou esta terça feira, 8 de dezembro, em Berlim.

“As lutas e conquistas que são ignoradas não duram. É por isso que precisamos continuar a trabalhar todos os dias”, é nesta nota que a ministra da cultura introduz o tema da exposição que irá ser realizada pela Presidência Portuguesa do Conselho e que é dedicada à “extraordinária criatividade feminina portuguesa nas artes”, com representação das artistas femininas nacionais desde o início do século XX até aos dias de hoje.

A representante da Pasta da cultura declarou que existem várias políticas que podem mudar o panorama da igualdade de género nas instituições e individuais, como por exemplo o encorajamento e recompensa das indústrias que liderem e promovam a igualdade de género no quotidiano e o financiamento de programas e projetos dedicados ao tema na cultura e industrias criativas.

A ministra afirmou que o mudar a sociedade para uma mais igual na representação dos géneros é um processo complexo e dificultado e que tem muito trabalho pela frente, mas reforçou que a história que temos de reconhecer é aquela em que as mulheres têm papeis de liderança. Ao último verso do poema acima “Nós somos o povo: mulheres do meu país”, Graça Fonseca acrescenta: “mulheres da Europa, mulheres de todo o mundo”.

Graça Fonseca, frisou os nomes de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, autoras do livro “Novas Cartas Portuguesas” de 1972 que desafiou a ditadura portuguesa ao abordar temas como as liberdades fundamentais, a violação da lei, o aborto e a condição subordinada da mulher em Portugal. A publicação do livre foi um momento determinante para o feminismo em Portugal, disse a ministra, sendo umas das primeiras grandes causas feministas portuguesas com visibilidade internacional. O livro foi proibido pelo regime, que o considerou pornográfico e desadequado à moral estabelecida, sendo que as autoras, levadas a julgamento, com o caso conhecido na História como “As três Marias”. A ministra ainda relembrou a história de Carolina Beatriz Ângelo, que em 1911 foi a primeira mulher a votar em Portugal, não porque era permitido, mas porque havia uma lacuna na lei, que depois foi retificada e assim permanecendo até à revolução de 1974.

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