“Ensino não é tendencialmente gratuito, devido ao valor das propinas”

Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda (BE) esteve no dia 20 de março em Viseu, na Escola Superior de Educação (ESEV), no âmbito da 4ª edição da Educultura organizado pela Associação de Estudantes da escola.


A palestra subordinada aos temas arte e cultura cruzou-se com o percurso de Catarina Martins, que antes da vida política foi co-fundadora e atriz da Companhia de Teatro de Visões, dirigente do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) e da Plateia (Associação de Proposicionais das Artes Cénicas).
À margem da conferência, Catarina Martins aproveitou para falar de alguns temas da atualidade, entre eles o projeto de lei apresentado por BE e PCP no Parlamento há cerca de duas semanas, que pedia o fim das propinas no Ensino Superior e que foi chumbado com os votos contra de PS, PSD e CDS-PP.
“O Bloco propôs não acabar com as propinas no mesmo ano, mas fazer um caminho gradual para as propinas irem acabando”, afirmou Catarina Martins, admitindo que o país “ainda está longe desse caminho”.
A líder bloquista foi mais longe, afirmando que “a constituição assegura o ensino gratuito, mas com o valor que as propinas têm não é tendencialmente gratuito coisa nenhuma”. Ainda assim, a dirigente reconhece que hoje o Ensino Superior é “uma ferramenta necessária às gerações para o trabalho” e essencial para “qualificar o país”.
Catarina Martins prosseguiu dizendo que as instituições de Ensino Superior “dependem demais das propinas e, portanto, é preciso fazer um caminho, com tempo, em que o orçamento de Estado vai aumentando para as instituições de Ensino Superior, ao mesmo tempo que se vai diminuindo o valor das propinas, para caminharmos para um acesso à educação para todos e para todas”.

Dirigente defendeu fim das praxes
No âmbito da visita à ESEV, a coordenadora do Bloco de Esquerda tocou ainda num outro tema que é caro ao seu partido: as praxes académicas. Durante a conferência, a convidada defendeu o fim das atividades da praxe, apesar de reconhecer que algum do público presente poderia não gostar desta afirmação.
No final, Catarina Martins disse nada ter “contra a organização dos estudantes na sua integração, no seu conhecimento, na criação de comunidade e de laços entre eles”, mas manifestou ser contra “um sistema em que uns mandam e outros obedecem, que é opressivo e que tem dado provas que não é verdade que as pessoas participam porque querem”, resultando em “problemas gravíssimos do ponto de vista da violência física e psicológica sobre as pessoas”.
“Eu acho que os estudantes se conseguem organizar de formas bem mais criativas e interessantes do que num modelo baseado na obediência, no autoritarismo e num modelo que é até, muitas vezes, ofensivo para as pessoas”, disse ainda Catarina Martins.
Para a coordenadora do BE, “a integração no Ensino Superior deve ser feita por modelos em que as pessoas com certeza brincam, divertem-se, conhecem-se, mas livres do autoritarismo que não tem lugar na escola pública e democrática”.
Sobre o que é preciso fazer para mudar o conceito das praxes académicas, Catarina Martins não acredita “num polícia atrás de cada estudante”, passando a responsabilidade para os estudantes que “têm de se organizar para criar alternativas de encontro, de brincadeira, de convívio que não sejam baseadas em ofensa e autoritarismo”.
Apesar de atribuir a maior parte da responsabilidade aos estudantes na mudança que é necessária ao nível das praxes académicas, a deputada na Assembleia da República referiu ainda que “as universidades e os politécnicos têm de ter uma palavra muito forte recusando colaborar nesse tipo de práticas”.

 

Texto e imagem: João Pereira

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