Porque teima o Homem em desumanizar o mundo?

No passado dia 21 de outubro, o Parlamento Europeu aprovou um conjunto de medidas que visam uma regulamentação mais apertada e eficaz da Inteligência Artificial na União Europeia. A Comissão Europeia partilha a “ambição de criar um quadro legal para a inteligência artificial na Europa, para que as pessoas possam beneficiar de produtos e serviços de IA que sejam seguros e que respeitem os direitos e valores europeus fundamentais” e deverá avançar com uma proposta legislativa em 2021.

Por Kevin Santos

Apesar de se restringir apenas à zona europeia, acredito que seja o primeiro passo rumo à regulamentação, a nível mundial, de uma tecnologia que se pode revelar a melhor ou pior coisa criada pelo Homem. Este talvez seja o ‘empurrão’ que as restantes autoridades governamentais necessitam para encarar as problemáticas relativas, não só à Inteligência Artificial, mas também aos dados (o recurso mais valioso do mundo, atualmente) que ‘fornecemos’, diariamente, a empresas como Facebook. Foram já várias as personalidades do mundo da tecnologia, como Satya Nadella, diretor executivo da Microsoft, ou Sundar Pichai, o seu homólogo da Google, que alertaram para esta necessidade de regulamentação.

Hoje vou falar da Inteligência Artificial (falarei dos dados no futuro, certamente). O que é a Inteligência Artificial? Uma espécie de ‘prótese’ para a inteligência humana. A combinação de ciência e engenharia para que máquinas realizem tarefas que, quando realizadas por humanos, necessitam do uso de inteligência. E, apesar da tecnologia trazer benefícios, também cria alguns problemas (e a tendência é criar cada vez mais).

A tecnologia já faz parte do nosso quotidiano. Por exemplo, nas sugestões de pesquisa do Google, na capacidade de criação de legendas do Youtube (tem bastantes erros, mas já se mostra bastante eficaz) ou na forma como a Netflix recomenda conteúdos aos seus utilizadores. As facilidades criadas são inúmeras e nos mais variados campos da sociedade, da educação à saúde. Rapidez de processamento, capacidade de armazenamento, redução de erros, automação de processos repetitivos e a adaptabilidade às preferências do utilizador. Voila, os benefícios de uma tecnologia que poderá ser, se utilizada da melhor forma, a solução para (quase) todos os males do mundo.    

Mas há problemas. E é por causa destes que a regulamentação é tão importante. É necessário legislar a tecnologia (e todas as suas aplicações) e educar os utilizadores da mesma. Parte dos problemas serão, assim, ‘facilmente’ resolvidos, mas… Quantos postos de trabalho vão desaparecer? E qual é a solução para as taxas de desemprego, que vão subir vertiginosamente? Vai chegar o dia em que as máquinas serão capazes de substituir-nos na maior parte das profissões (se não todas). Que será do Homem quando chegar esse dia? Estas são algumas das perguntas que necessitam de respostas.

Assistimos a uma constante desumanização do mundo, à proliferação de uma tecnologia que nos poderá superar, como o aluno que supera o seu mestre. O que acontecerá quando for alcançada a singularidade tecnológica? Teremos capacidade para controlar a Inteligência Artificial? Qual será a nossa ‘arma’ contra ela?

A lei de Murphy diz que “se algo pode dar errado, dará” e a verdade é que há uma grande probabilidade desta tecnologia ‘dar para o torto’ ou ‘cair nas mãos erradas’ (como os dados, que já foram/são utilizados contra nós e contra a democracia). E, considerando esta lei, será que o universo conspira contra nós? Ou, por outro lado, nos chama à atenção para que se tomem precauções? E haverá precauções eficazes para este problema? Uma única falha, de um único indivíduo, e vai dar errado. Não consigo dar-me ao luxo de confiar em tantas pessoas. Porém, sou um romântico e acredito que há coisas que as máquinas nunca poderão ter, como o amor. Tenho a certeza de que nunca o poderão ter, porque este não foi inventado e não é compreensível, apenas se sente.

Os filmes não passam de filmes, mas eu acredito que eles nos podem ensinar muita coisa. Falo dos filmes de ficção científica, é claro. Esqueçam o ‘barulho visual’, as naves espaciais e os robôs assassinos. Devemos encarar estes filmes como se de um livro se tratassem. Procurar o que está para lá do que veem os nossos olhos. O amor está em (quase) todos. Seja ele paradoxal (Exterminador Implacável), trágico (Inception), uma escolha (Matrix), inapagável (Eternal Sunshine of the Spotless Mind) ou “a única coisa que somos capazes de perceber que transcende as dimensões de tempo e espaço” (Interstellar). Se a IA der errado, como em alguns destes filmes, será o amor a solução?

Para que não dê errado, porque “mais vale prevenir que remediar”, devemos refletir: Será este o mundo que queremos? Um mundo formatado, sem amor, sem arte, sem ideias? Porque teimamos em desumanizar o mundo?

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